“Quando olhei para o céu na direção da região serrana no dia 11 de janeiro, logo percebi a formação de colunas de cúmulos-nimbos, gigantescas. Por volta das 22h, ao consultar o site Climatempo, verifiquei que a pressão estava a 1.003 Mb (milibar), pensei: o mundo vai desabar em cima deste lugar”. Este foi o relato do Comandante Diógenes Mendes de Oliveira sobre sua observação técnica feita horas antes das chuvas torrenciais que caíram em Nova Friburgo.
Esta observação pôde ser feita de forma precisa pelo Comandante Diógenes devido larga experiência no setor aéreo. Piloto há mais de 50 anos, Diógenes é instrutor, checador, chefe de treinamento da Rio Sul e da Ocean Air e atua também ministrando cursos para pilotos, inclusive sobre condições meteorológicas.
Em visita ao município de Nova Friburgo no dia 10 de fevereiro, o Comandante falou sobre este fenômeno meteorológico conhecido como cúmulos-nimbos. Estas nuvens são de desenvolvimento vertical e se concentram em regiões mais altas e frias da atmosfera. Diógenes explicou: “Esse fenômeno meteorológico se estacionou em cima da região de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo. Ele é caracterizado por cúmulos-nimbos holográficos que se formam exatamente nas montanhas dependendo da direção dos ventos, e se tornam colunas verticais muito fortes. Na medida em que a água vai subindo, ela vai perdendo a temperatura e, consequentemente, sofrendo uma modificação física. A cada mil pés, a temperatura cai dois graus”.
O piloto disse ainda: “No topo dos cúmulos-nimbos, dependendo da quantidade e da força da evaporação, a água já está em estado sólido, em forma de granizo. Nestas altitudes, o granizo é bem volumoso e se atrita um ao outro, se esfarela e desce em forma de chuva. Então começa novamente o fenômeno físico: inicialmente a água sobe em forma de vapor, passa do estado líquido para sólido e depois o sólido se transforma em líquido para virar novamente vapor e subir em forma de espiral. Com isso gera uma energia muito forte. Considerando a polaridade do sol, das nuvens vêm as descargas elétricas. Essas quantidades de água dentro dos cúmulos-nimbos são volumes assustadores e ficam em suspensão, esperando apenas o momento para descer”.
Em relação à pressão atmosférica, o Comandante Diógenes ressaltou que quanto menor o índice, maior a possibilidade de chuva. No caso da região serrana, outros dois fatores contribuíram para a baixa da pressão: a altura e a temperatura. Como a pressão diminui com a altitude e as cidades atingidas pelo temporal ficam localizadas em montanhas, a coluna de ar atmosférico sobre o lugar tornou-se menor e o ar quente, por ser mais leve, subiu diminuindo a pressão na região.
Na concepção do Comandante Diógenes, para evitar que outra catástrofe como esta aconteça, os governantes deveriam investir na orientação da população: “Nós pilotos somos preparados e treinados para fazermos um vôo como se algo de anormal fosse acontecer sempre. Então nós fazemos um briefing antes da decolagem, nos preparando para qualquer emergência e isso deve ser feito também com o povo. A cultura popular diz que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, mas cai sim. Isso acontece uma vez ou outra, mas independente disso devemos estar sempre preparados. Devem ser instalados alguns pontos de observação meteorológica, levando em consideração características geográficas de uma cidade. Além disso, as autoridades do município deveriam promover palestras sobre o assunto, procurar especialistas para que a população esteja instruída e saiba como agir diante de situações urgentes. Esclarecer o público é a melhor medida a ser tomada para que ninguém seja pego de surpresa”.
Comandante Diógenes Mendes
Um comentário:
O comte. Diógenes é um profissional muito sério e suas sugestões deviam ser consideradas pelo Governo do Estado.
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