REVISTA ELETRÔNICA de EDUCAÇÃO & SAÚDE.

REVISTA ELETRÔNICA de EDUCAÇÃO & SAÚDE (ano XLI) 2024 ou 5785
Criação e realização do biólogo e professor JOÃO ANGELO MARTIGNONI TEIXEIRA
Orientação e configuração do engenheiro e professor EVERARD LUCAS CARDOSO

04 setembro 2014

55 anos do acidente com o avião Viscount 701 no Pico do Caledônia (04/9/2019).

Já se vão 55 anos do acidente com o avião no Pico do Caledônia (04/9/2019).
(Fonte: Jornal A Voz da Serra de 04/9/2014 - adaptado por João Angelo para as aulas)




Foto do Alto da Pedra do R, provável lugar da batida do avião

O desastre aéreo aqui em Nova Friburgo, matou 34 passageiros e 5 tripulantes:

No dia 4 de Setembro de 1964, um acidente causaria grande impacto na população de Nova Friburgo. Um avião Vickers Viscount, que realizava o voo Vasp 141 — linha aérea que ligava Recife a São Paulo, com escalas em Aracaju, Salvador, Vitória e Rio de Janeiro — chocou-se com o pico do Caledônia, por volta das 16h30 daquela sexta-feira. O avião havia decolado do aeroporto dos Guararapes, em Recife, e tinha como destino Congonhas, em São Paulo.
Na época, o acesso a Pedra do R — provável lugar do choque da aeronave — era dificílimo, pois não havia ainda as trilhas de hoje — só era possível chegar ao local embrenhando-se na mata. No momento do acidente, muitos viram o clarão da batida, enquanto outros ficaram sabendo momentos depois através do boca a boca. Alguns cidadãos de Nova Friburgo, inclusive, enfrentaram a subida para averiguar in loco o ocorrido. 
A cena, segundo relatos, era dantesca. Muitos destroços do avião, sangue e pedaços de corpos mutilados. No voo havia 39 pessoas — 34 passageiros e cinco tripulantes.
Vários relatos confirmam que pessoas subiram a pedra não só para ajudar ou ver a cena. Muitos foram até o Caledônia com a intenção de furtar os pertences dos passageiros. Outros carregaram partes do avião como lembrança do ocorrido, o que acabou levando as Forças Armadas a fecharem o local, impedindo que a população subisse.
Além da Marinha, quem participou do resgate foi a Força Aérea Brasileira (FAB), com alguns membros tendo enfrentado o duro caminho através das matas e uma outra equipe que conseguiu o acesso mais facilitado, através dos helicópteros.

MOTIVO DO ACIDENTE

Nunca ficou exatamente confirmado o que levou o avião a chocar-se com o Caledônia. Segundo dados do Aviation Safety Work — portal americano sobre acidentes aéreos — a aeronave decolou da parada em Vitória, no Espírito Santo, às 15h30, e estabeleceu cruzeiro à altitude de 1800 metros.
Por volta das 16h30, a tripulação fez o informe dizendo que estava sobrevoando Rio Bonito, porém, o avião estava sobre Nova Friburgo, a 43 quilômetros de Rio Bonito e a 35 de sua rota original. A aeronave chocou-se no lado oeste do Pico do Caledônia a aproximadamente 1.950 metros de altitude — cerca de 300 metros abaixo do pico da montanha, portanto.
A comissão investigadora divulgaria na época a única conclusão possível: "Colisão com obstáculo localizado 35 km à direita da rota por razões indeterminadas”. O inquérito fora muito prejudicado pelo estado em que ficaram os destroços do acidente, uma vez que o avião foi reduzido a pequenos fragmentos. Também foi prejudicado o reconhecimento dos corpos, que ficaram partidos em pequenos pedaços, sendo possível reconhecer somente oito deles.
Outro motivo que poderia ter causado o acidente foi a opção da tripulação de voar a seis mil pés, indicando um possível problema com a pressurização. A altitude era adequada à rota, porém não ao desvio que acabou sendo feito. Em condições normais, um avião pressurizado como o Viscount voava, geralmente, na altura de 12 mil a 16 mil pés de altitude.

"Nós fomos uns dos primeiros a chegar”
 
Roberto Cerqueira jogava bola com os amigos quando viu o clarão da batida da aeronave

Roberto Cerqueira mora em Nova Friburgo desde pequeno. Em 1964, quando jogava bola com os colegas, durante à tarde, viu um clarão no pico do Caledônia. Curioso, ele e mais cinco amigos foram em direção à pedra.
Acostumados a andar pelo lugar, os amigos subiram por uma trilha pelo mato, muito difícil, porém, que já conheciam. "Nós nunca subimos o Caledônia tão rápido”, comenta Roberto. Segundo ele, só havia mais três pessoas no local do acidente que, provavelmente, eram moradores do Cônego.
Roberto lembra que já na subida podiam ver corpos espalhados pelo lugar. No pico da pedra, a cena se repetia, porém pior. Havia, além de cadáveres, muito sangue e ainda fogo. Na lembrança do friburguense, o avião bateu em uma fenda que existe no Caledônia e, que pouco tempo depois, as autoridades começaram a chegar, vendo que havia muita gente subindo para conferir o acidente e, consequentemente, começaram a ter roubos de malas e dinheiro dos passageiros mortos.
Na descida, Roberto encontrou um pedaço do avião, que decidiu levar como recordação. Porém, mais embaixo, deparou-se com um grande número de policiais subindo, que acabaram confiscando o souvenir.
Roberto, hoje aos 73 anos, diz que, para ele e para os amigos, a ida ao Caledônia naquele dia foi uma grande aventura que, pelo impacto de ver os corpos e destroços do avião, se tornou um episódio que ficará na memória pelo resto da vida.

"Eu queria não ter visto”
 
Manoel Carlos estava voltando do Rio quando soube do desastre aéreo

No dia 4 de setembro de 1964, Manoel Carlos estava voltando do Rio, onde estudava, quando soube da notícia: um avião havia colidido com a Pedra do R, no Caledônia. Na mesma hora, decidiu com seus amigos o que fariam ao chegar em Friburgo: "Vamos subir o Caledônia”.
Manoel, que é construtor naval, conta que mal deu tempo de chegar. Deixou as malas em casa e se dirigiu à serra com os amigos. "A gente subia sempre essas montanhas. Mas a hora já estava avançada e não tinha trilha como tem hoje, não tinha estrada. Depois de um determinado ponto era a pé e uma trilha que tinha que se trabalhar bem”. Porém, a euforia era tanta que o grupo esqueceu de algo primordial: o equipamento. "Tinha que ter lanterna, bota, roupa apropriada e uma hora constatamos que não tínhamos levado nada. A emoção, aflição de chegar lá em cima fez com que a gente não se planejasse.”
Vendo a situação que estavam e a difícil trilha que tinham pela frente, Manoel e seus amigos decidiram voltar e tentar a subida no dia seguinte. Na descida, observaram uma cena curiosa: "Parecia um formigueiro, muita gente tentando subir e todo mundo que descia estava com uma parte do avião. Pedaços de fuselagem, de peças. Vi até gente descendo com uma pá de hélice nas costas. A impressão que eu tive era que no dia seguinte eu não ia encontrar mais nada lá”.
O friburguense comentou que ele e os amigos não conseguiram dormir naquela noite. "A ansiedade era tanta que nem dormimos. Nós ficamos conversando, comentando a tragédia, e às 5 da manhã já estávamos escalando.” Quando chegou ao local, as cenas que viu eram as piores possíveis: "A maioria dos corpos estava em pedaços pequenos. Você só identificava pela roupa. Vi um cara segurando um pé com sapato e achando que aquilo ali era um troféu. Tinha pessoal procurando bolsas, malas, para roubar. Eram grupos separados, a maioria era de curiosos ou pessoas querendo ajudar. Mas tinham aqueles que iam fazer pilhagem, arrombavam malas. Teve um cara que vestiu uma jaqueta que estava dentro da mala.”
Ainda sobre o cenário da época, Manoel Carlos comentou: "Eu lembro de uma expressão de espanto e tristeza mesmo naqueles que estavam eufóricos, porque dá uma comoção, é muito estranha a nossa reação diante de uma cena como essa. Eu tinha 19 anos e sem a experiência que tenho agora. Acho que se fosse hoje, eu nem iria. Você não vai ajudar em nada. Você ver um avião, uma coisa imensa triturada, aquilo choca. Qualquer um, mesmo os que estavam saqueando, tiveram seu trauma. Eu me arrependi de ter ido. Passei muito tempo com arrependimento de ter visto aquela cena porque é muito chocante. É uma coisa que eu gostaria de não ter visto. Na cidade as pessoas não tinham noção do que tinha acontecido. Não se tinha nem ideia do que era um avião. Achava-se que o avião tinha caído inteiro. Pouca gente andava de avião.”
O construtor também revelou que tentou ir ao local outras vezes: "Uma semana depois um amigo meu foi e disse não ter visto quase nada [do acidente] lá. Eu tentei ir lá várias vezes depois, mas pelo mesmo caminho não consegui porque depois que fizeram as trilhas, os caminhos, nossas referências do trajeto foram desaparecendo. Fiz vários voos de asa delta lá depois, mas mudou completamente o caminho. A vegetação cresceu e foram abertas as estradas”.

O avião Viscount 701 que atingiu o nosso Pico do Caledônia:
 
Um avião de modelo parecido com o Viscount que chocou-se com a Pedra do R encontra-se exposto no Museu Eduardo André Matarazzo, no estado de São Paulo

O avião que realizava a rota Vasp 141 era um Viscount, da marca inglesa Vickers, modelo 701. Segundo dados da Aviation Safety Network, foram produzidos um total de 445 Viscounts, entre as séries 630, 663, 700, 800 e 810. O primeiro voo utilizando o modelo, que possuía capacidade máxima de 65 passageiros, foi realizado em 1948 — um voo-teste — e a aeronave começou a ser usada em serviço a partir de abril de 1953.
O Viscount que atingiu o Caledônia havia sido comprado pela British European Airways (BEA) em 1955, e operado na companhia até ser vendido para a Vasp em 25 de junho de 1963, onde foi registrado com o prefixo PP-SRR. Quando ocorreu o acidente, o avião possuía mais de 17 mil horas de voo. Segundo algumas publicações, os Viscounts nunca se adaptaram ao clima do Brasil, o que causava diversos problemas técnicos, como, por exemplo, panes no rádio.
Durante algum tempo, na Via Expressa, que liga os bairros Olaria e Cônego, houve um memorial em que eram exibidas peças do avião. Porém, hoje o mesmo encontra-se fechado. É comum ouvir histórias de pessoas que ainda possuem algum pedaço das peças do 701C, porém, até o fechamento desta edição, a reportagem de A VOZ DA SERRA não conseguiu localizá-las.

Falecido em acidente tem hospital e escola com seu nome em Ipatinga:
Márcio Aguiar Cunha, que morreu no acidente, era engenheiro da Usiminas e ajudou no desenvolvimento da cidade de Ipatinga

Em 1964, Márcio Cunha era morador de Ipatinga, cidade para onde tinha se mudado com a família ainda na década de 1950. Segundo o portal Eu Amo Ipatinga, Márcio era engenheiro e foi para a cidade após ser convidado para trabalhar na Usiminas. Quando mudou para a cidade, Márcio morou com a família em um alojamento para engenheiros.  Em seu trabalho como urbanista, o engenheiro fez diversas construções, como um hotel, aeroporto, escola e hospital, além de diversas casas.
No fatídico 4 de setembro daquele ano, Márcio entrou no Viscount em Vitória, onde estava a trabalho no Porto de Tubarão, testando uma peça que seria usada no alto-forno da Usiminas.
Márcio morreu aos 39 anos, deixando esposa e seis filhos. Hoje, em Ipatinga, existe um hospital e uma escola que levam o nome do engenheiro. No dia 1º de Maio de 1965, menos de um ano após o acidente, o presidente da República Marechal Castelo Branco inaugurou o hospital batizado com o nome do engenheiro.

A lista de passageiros:
Foram identificados 3 mulheres e 34 homens. Dois dos 39 passageiros nunca tiveram suas identidades descobertas.

TRIPULAÇÃO:
Aldemar de Castro Magalhães (Comandante)
Hélio Moreira (Radioperador)
José Edmilson Prata Fraga (Copiloto)
Roberto Luna Luqueta (Comissário)
Vera Nair de Miranda (Comissária)

De SALVADOR:
Claudionor Pereira
Eduardo Tobler
Hugo Gerino
Ildefonso Leite Brito e Filho
José Marcosi
Maria José Sampaio
Múcio Argeu Barbosa
Múrio Ferreira
Rena Maria Freitas
Ronaldo Barbosa Santos

De RECIFE:
Alex Henry
Fernando Vanderlei
Francisco Bezerra
Lúcia Vanderlei

De VITÓRIA:
Antônio Plínio A. Júnior
Arnaldo P. Lapa
Celso de Oliveira Nascimento
Fernando Fonseca
Fernando Silveira
Henrique Schwab
Hidesaburi Qushibiki
João Batista Barlaci
João Walmique Silva
José G. Guimarães
Juarez S. de Menezes Alencar
Márcio Aguiar Cunha
Sérgio Gabriel de Paula
Sílvio Fonseca
Wilson Cardoso Alves
Willy Silveira 
Virgílio Noronha

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