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REVISTA ELETRÔNICA de EDUCAÇÃO & SAÚDE (ano XLI) 2024 ou 5785
Criação e realização do biólogo e professor JOÃO ANGELO MARTIGNONI TEIXEIRA
Orientação e configuração do engenheiro e professor EVERARD LUCAS CARDOSO

18 janeiro 2014

A QUÍMICA ATUAL...



O engenheiro químico Valdir Veiga Junior mora a cinco mil quilômetros de distância de Nova Friburgo, em Manaus, mas seu coração nunca saiu daqui. Como bom friburguense, Valdir costuma dizer que "estar longe das montanhas, das florestas, dos rostos amigos e da família é muito difícil”. Mas não tinha outro jeito. Desde o tempo da faculdade, na UFRJ, onde fez também seu mestrado e doutorado, passava grandes temporadas na Amazônia, pesquisando a diversidade química de ervas e animais da região. 

Quando terminou o doutorado, voltou para Nova Friburgo, onde chegou a dar aulas de bioquímica, biofísica e bioestatística, na Uerj e na Estácio, mas logo percebeu que precisava se estabelecer mais perto do seu local de pesquisas. Então, mudou-se de vez para Manaus, continuando suas pesquisas, muitas publicadas em periódicos internacionais. 

Hoje é professor adjunto de química biológica na Universidade Federal do Amazonas, onde orienta alunos de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado. Também coordena o grupo de pesquisas em química de biomoléculas da Amazônia. Atualmente, estuda plantas visando seu uso em cosméticos e alimentos funcionais, para o tratamento do Mal de Alzheimer e diferentes tipos de câncer. 

Neste Ponto de Vista, Valdir Veiga fala sobre o ensino da química, que desde o ensino médio costuma ser uma das disciplinas mais detestadas pelos alunos — e que poderia ser a mais interessante. Nas universidades o ensino tem qualidade melhor e a interação com as pesquisas atrai muitos jovens. Ainda assim, os níveis de desistência são elevados. Uma pena, diz ele, pois os químicos têm a possibilidade de mudar o mundo à sua volta. 


Valdir Veiga Junior

A química está entre as disciplinas que mais sofre com a falta de professores de ensino médio e também com uma grande evasão nas universidades. Será o fim da química e dos químicos? Afinal, a química é assim tão desinteressante ou, pelo contrário, está à frente das revoluções modernas?

Existe uma química entre nós, dizem os apaixonados. É bonito, mas se for pra estudar, dá outros arrepios. É só dizer "química” e o que vem à mente são decorebas intermináveis de palavras com pouco ou nenhum sentido prático. Se você disser que estuda essa disciplina, é visto como muito inteligente ou como louco, por ser uma pessoa que se aprofunda em algo tão incompreensível. 

Mas pode ser diferente, pode haver paixão na química. Mais do que decorar as palavras diferentes e esquisitas, como no estudo de línguas, o mais importante é poder conversar. É preciso combinar estas palavras e formular expressões e sentenças que façam sentido, associá-las ao que está à nossa volta, enxergá-las no dia a dia. 

Exemplos simples: o butano que queimamos no fogão, o octano que faz o automóvel se mover ou o hexano que usamos pra extrair o óleo da soja. Nos jornais a notícia é sobre a gasolina que polui menos. Do que ela é feita e como analisá-la? Menos enxofre sendo queimado resulta em menos chuva ácida, ar mais puro significa mais saúde. Mas o que é acidez? O azeite que consumimos pode ser bem baratinho ou duzentas vezes mais caro se a acidez (que está no rótulo) for de 2% ou de 0,2%. Entender a diferença parece ser importante.

A química nos conforta. É só sentir o tecido macio no corpo e compreender como chegamos a ele, após tantos séculos usando o couro duro de animais como proteção contra o frio. Faz-nos viajar nas emoções de perfumes e ficar a cada dia mais bonitos e saudáveis, com cosméticos e vitaminas. Ela nos alimenta. É só apreciar no supermercado a enorme variedade de alimentos e pensar na importância dos fertilizantes, defensivos e conservantes. Ela nos dá mais vida. Basta perguntar aos seus pais se eles tiveram o privilégio de conviver com seus avós e bisavós lúcidos e ativos, graças aos medicamentos e vacinas que prolongam a vida em mais de vinte anos em relação há alguns poucos anos. 

A paixão pela química surge com os questionamentos mais simples do ser humano. Do que isso é feito? Por que tem essa propriedade? Por que é tão doce ou tão macio, por que carameliza, endurece, evapora, afunda?... No ensino médio, o que nos ensinam é por vezes chato, mas a química permanece bela e apaixonante na alma dos que a compreendem. Nos chips, polímeros, fármacos, na tecnologia que molda a nossa vida, a química permanece uma ciência de ponta, que se redescobre e se reinventa.

Fonte: AVS de 18/01/2014

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